sábado, 24 de outubro de 2015

Desafio de leitura à desgarrada

Caros leitores,
Muitos de vós têm perguntado quando recomeçamos com as sessões da comunidade de leitores. Como Ana Gantes nos disse: "Preciso destes momentos..". A resposta é que ainda não sabemos. Mas, enquanto não se concretiza este nosso desejo, lanço um desafio a todos. O que temos lido? O que gostámos de ler? O que não gostámos? O que queremos partilhar? Dou o pontapé de saída.

Kinzentrationslager, Reichsfuhrer-ss, Henrich Himmler, Wehrkraftzersetzung, Postzensustelle, Helferinnem, Schwanz, Genickschuss, Kriegsgefangnisse, Sonderkommaandofuhrer, stumpfegger, productive vernichtung, nmensch, dumm rassenschande, furstengrube, Augen. Entre tiros na nuca e palavrões, Reichsfuhrer, extermínio produtivo. Sonderkommanofuhrer. Holocausto. Extermínio de judeus, principais vítimas do nazismo, embora outros também sofressem com a tirania nazi, como os ciganos, homossexuais, deficientes físicos e mentais.  Este realismo amargo, que na obra literária nos é dado, não só por todos estes termos escritos na língua alemã, mas pela dureza das palavras escritas.
É um livro incómodo. Logo nas primeiras páginas, abandonei o livro. Quando li, na página 36, o pensamento do personagem Golo Thonsen, oficial nazi, de segunda linha - (...)"uma viagem confortável, seguida de uma reacção amistosa e digna. Realmente que necessidade é que nós tínhamos das estrondosas portas daqueles vagões, da luz brutal dos holofotes, da horrenda gritaria (Fora! Saiam! Depressa! Mais depressa! MAIS DEPRESSA!), dos caães, dos cassetetes, dos chicotes? E o KL? tinha um aspeto tão civilizado na penumbra que se adensava...E que magnífico o brilho das bétulas à débil luz do entardecer! Havia, tenho de admitir, o odor característico (e alguns dos nossos recém-chegados farejavam-no com pequenos movimentos para cima das cabeças), mas, no final de um dia de altas pressões e algo ventoso, mesmo isso não era nada de... Até que veio aquele miserável camião, do tamanho de uma camioneta de transporte (...). O tipo travou violentamente e o camião derrapou, aos solavancos, e só parou quando ficou atravessado nos carris, as rodas a ganirem em busca de apoio. Então, descaiu miseravelmente para a esquerda, a cobertura lateral mais próxima enfunou-se rumo ao céu e-durante 2 ou 3 segundos exatos - revelou a sua carga". Para mim era uma visão tão familiar como a chuva da primavera ou as folhas de outono (...)
Estas palavras revelam-nos as fotografias da realidade e não é fácil suportá-las. Martin Amis, através de dois dos principais personagens - Paul Doll, comandante do campo, em Auschwitz e Golo Thonsen, um jovem oficial em serviço no Konzentrationslager, é sobrinho de Martin Bormann, o influente secretário pessoal de Hitler - dá-nos uma perspetiva diferente do ódio dos nazis aos judeus, um ódio que como disse  Primo Levi "é um ódio que não existe em nós; existe fora do homem...".
Este é  um livro que acabei por ler e que  dará, certamente, para uma boa conversa!



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