quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Natal

Hoje é dia de Natal.
O jornal fala dos pobres
em letras grandes e pretas,
traz versos e historietas
e desenhos bonitinhos,
e traz retratos também
dos bodos, bodos e bodos,
em casa de gente bem.

Hoje é dia de Natal.

- Mas quando será de todos?


[Sidónio Muralha]

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Uma aula de História do Islão na 2ª sessão da Comunidade de Leitores




A 2ª sessão da Comunidade de Leitores, realizou-se na Biblioteca Municipal Ary dos Santos, em Sacavém.
A sessão prometia. A obra literária "Submissão" de Michel Houellebecq, livro político, cuja narrativa traça um cenário pouco esperado num país ocidental. Diz a sinopse "Às portas das eleições presidenciais, a França está dividida. O recém-criado partido da Fraternidade Muçulmana conquista cada vez mais simpatizantes, graças ao seu carismático líder, numa disputa directa com a Frente Nacional."

Esta sessão contou com dois convidados, dois jovens, com um vasto curriculum.

  Elsa Fernandes Cardoso, licenciada em Estudos Asiáticos e mestre em História do Mediterrâneo Islâmico e Medieval pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com uma tese sobre a orientalização da corte de Córdova, orientada pelo Prof. Doutor Hermenegildo Fernandes, da mesma Instituição. É presentemente bolseira de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, com um projeto relacionado com a institucionalização do cerimonial de corte no Al-Andalus.  É investigadora integrada do Centro de História da Universidade de Lisboa no Grupo de Investigação "Cultural Encounters and Intersecting Societies", seguindo a linha de investigação dos estudos meditterânicos. Encontra-se presentemente associada à docência da cadeira de "Islão Asiático: Passdo e presente",  regida pelo Prof. Doutor Hermenegildo Fernandes, da licenciatura em Estudos Asiáticos na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, entre outras atividades e interesses.

 Gonçalo Matos Ramos é licenciada em História e mestre em História do Mediterrâneo Islâmico e Medieval pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com uma tese sobre a sociedade de fronteira do Entre-Douro-e-Tejo no século XI, orientada pelo Prof. Doutor Hermenegildo Fernandes, da mesma Instituição. É presentemente bolseiro de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, com um projeto relacionado com as relações entre cristãos e muçulmanos no Magrebe Ocidental nos séculos XV-XVI, igualmente orientado pelo Prof. Doutor Hermenegildo Fernandes. É investigador integrado do Centro de História da Universidade de Lisboa no Grupo de Investigação "Cultural Encounters and Intersecting Societies". Encontra-se presentemente associado à leccionação da cadeira de "História do Islão Medieval", regida pelo Prof. Doutor Hermenegildo Fernandes, da licenciatura em História na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, entre outras atividades e interesses.

Os leitores desta comunidade  tiveram oportunidade de ter uma aula sobre a história do Islão, ao longo dos séculos que ajudou a compreender e até a ver com outro olhar o Oriente mas também o Ocidente. A história é complexa, porque não podemos olhar de igual forma para todos os países muçulmanos, porque há muitos factores,  religiosos, políticos, entre outros que os diferenciam. Referiram que, o que está a acontecer na biblioteca, um encontro de leitores cuja maioria são mulheres, para discutir um livro, também, é natural e possível acontecer no Irão. Existem as mesmas condições e liberdade para homens e mulheres estarem reunidos. Aliás, a maioria dos estudantes do ensino superior no Irão são mulheres. Na Arábia Saudita não é assim. Nos países do Magrebe também é diferente. No Ocidente também há bastantes diferenças entre os países, Portugal é diferente de França, os Estados Unidos da América também são diferentes de outros.

O conhecimento aliado à literatura, trouxe reflexões brilhantes sobre um livro de um escritor, que é um provocador e que causa o desassossego no leitor e até irritação.

Realidade ou literatura é isto, uma aprendizagem constante e esta noite ficámos muito mais ricos porque, certamente, todos nós aprendemos nesta aliança entre a Academia e a Sociedade Civil.

PS: partilho um dos livros que circulou por todos - Orientalismo de Edward W. Said.






sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

"O Primeiro Dia" de Sérgio Godinho


 "O Primeiro Dia" da autoria de Sérgio Godinho interpretado pela Orquestra Ligeira da Sociedade Recreativa e Musical 1º de Agosto Santa Iriense  foi a  surpresa preparada para o Sérgio Godinho. Momento bonito na Biblioteca Municipal Ary dos Santos.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

2ª sessão - "Submissão"


A 2ª sessão da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures realiza-se já no dia 14 de dezembro, às 21H00, na Biblioteca Municipal Ary dos Santos.
Em análise um livro polémico. Uma história passada em 2022 que " convida a uma reflexão sobre o convívio e conflito entre culturas e religiões, sobre a relação entre Ocidente e Oriente, sobre a relação entre cidadãos e instituições. Um romance que, como é habitual na obra do autor, adianta-se ao seu tempo e coloca questões prementes, hoje mais relevantes do que nunca. Michel Houellebecq confirma-se nestas páginas como um pensador temerário, capaz de detectar as grandes tensões do nosso tempo, interpretando-as com lúcida ironia."


Vamos contar com dois convidados, Drª Elsa Raquel Fernandes Cardoso e o Dr. Gonçalo Marques Ramos da Faculdade de Letras de Lisboa, Centro de História, instituto de estudos árabes e islâmicos que irão conversar connosco sobre a cultura islâmica.

Mais um serão literário a que não pode faltar.


"A liberdade está a passar por aqui" Sérgio Godinho na Biblioteca Municipal Ary dos Santos, em Sacavém

A Biblioteca Municipal Ary dos Santos, homenageou  um grande poeta, que se fosse vive, faria 80 anos de vida, no dia 7 de dezembro de 2017.  José Carlos Ary dos Santos. Era chamado de poeta do povo ou poeta da Revolução. Figura maior da Cultura Portuguesa do século XX.

Se Ary dos Santos fosse vivo, certamente gostaria de ver as suas palavras inscritas nas paredes de uma biblioteca e se passasse por aqui - Biblioteca Municipal Ary dos Santos - diria "A Liberdade está a passar por aqui" e faria das palavras de Sérgio Godinho, as suas.

Sérgio Godinho, convidado de honra para esta homenagem ao poeta,  falou  com os leitores sobre a sua obra literária "Coração Mais Que Perfeito",  não faltando palavras para o poeta Ary dos Santos, falando da importância da sua poesia e da facilidade como saiam os poemas.

Sérgio Godinho, ilustre compositor e escritor de canções, é também ator de teatro e  de cinema, Realizou filmes, fez guiões para cinema, escreveu livros infanto-juvenis, poesia, contos e finalmente um romance. É o homem dos sete instrumentos. Homem de grande fulgor criativo que não pensa deixar a música, nem os palcos, mas tem necessidade de outras criações artísticas.

Falou das suas canções e as histórias que elas nos contam e sobre o seu romance e os personagens que  nele habitam. Falou-nos de Eugénia e de como gosta de construir personagens femininas fortes  como Eugénia, a personagem principal  desta história psicologicamente intensa.

Eugénia atravessa a vida, com a tragédia por companheira. Perde mais do que ganha na vida, e por isso, é um romance de perda ou de perdas, na minha opinião. Apenas não perde o amor que sente pelo seu amado, Artur, um ator de teatro, que veste a pele de um personagem de teatro e enlouquece e tendo mais medo da vida do que da morte, suicida-se. Ela transporta  o seu corpo, na figura de um coração, um diamante, feito das suas cinzas. Um romance que nos mostra que afinal, a vida, não é feita de pequenos nadas.

Sérgio revelou que em princípio, sairá um novo disco,  em janeiro. Um novo romance, que já está escrito, também,  está para breve, apenas não desvendou do que fala, referindo que será um romance muito diferente deste. 

Este encontro com Sérgio Godinho contou com a presença do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Loures, Bernardino Soares e com o Vice-Presidente e Vereador da Cultura Paulo Piteira.

Antes do início da conversa entre o escritor, a Orquestra Lieira da Sociedade Recreativa e Musical 1º de Agosto Santa Iriense tocou O Primeiro Dia, música da autoria de Sérgio Godinho.



A Biblioteca Municipal Ary dos Santos é um mundo cheio de palavras e afetos!
Venha fazer parte dele!
                                        
                                                         







1ª sessão - História do Cerco de Lisboa

História do Cerco de Lisboa foi a obra debatida e refletida pela Comunidade de Leitores, a 9 de novembro, na Biblioteca Municipal José Saramago, em Loures.


Dedicada ao tema Literatura ou realidade, a sessão que abriu a temporada 2017/2018 da Comunidade de Leitores teve como convidados Sérgio Letria, membro da direção da Fundação José Saramago, e Federica Fiasca, em representação da Companhia de Teatro de Almada.

Publicado pela primeira vez em 1989, História do Cerco de Lisboa é um romance histórico que se funde em duas histórias, em que o Não, palavra-chave da obra, é uma chamada de atenção, de Saramago, para que as pessoas reflitam e pensem por si próprias, como referiu Sérgio Letria. Para o representante da Fundação José Saramago, este “é um livro com várias camadas em que custa a perceber o que é real e o que é literatura”, no qual “Saramago traz à ribalta uma série de heróis anónimos que nunca aparecem nos livros de história”, situações muito frequentes nas obras do autor.
Realizado na Biblioteca Municipal José Saramago, o debate refletivo, que contou com a participação de quase duas dezenas de membros da Comunidade de Leitores, não se cingiu apenas ao livro História do Cerco de Lisboa, sendo também focada toda a obra e vários aspetos da vida do Prémio Nobel da Literatura de 1998.


A próxima sessão da Comunidade de Leitores realiza-se na Biblioteca Municipal Ary dos Santos, a 14 de dezembro, sendo dedicada ao livro Submissão, de Michel Houellebecq.




A Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures cercaram o Teatro


Mais de cinquenta leitores das Bibliotecas Municipais de Loures foram, no dia 26 de outubro, ao Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada, assistir à peça “História do Cerco de Lisboa”. Um espetáculo elaborado a partir da obra literária de José Saramago e com encenação de Ignácio Garcia.

Esta iniciativa do Município de Loures, em parceria com a Companhia de Teatro de Almada, proporcionou uma noite cultural diferente aos participantes da Comunidade de Leitores, com um programa que incluiu jantar de confraternização, teatro, e ainda tempo para uma conversa com alguns dos atores no final do espetáculo.

Temos de repetir mais vezes estas confraternizações, porque sabem bem.


Eis algumas fotografias gentilmente cedidas pelo colega Armando Lucas.





domingo, 29 de outubro de 2017

O jardim da Biblioteca Municipal Ary dos Santos apela à poesia, sinta-o.

Caros leitores,
A Biblioteca Municipal Ary dos Santos dispõe de um jardim que foi equipado com mobiliário de exterior confortável, para que aproveite este espaço e desfrute da natureza. Beba um café, enquanto lê um  livro. E porque não um bom livro de poesia. Como diz António Ramos Rosa Consideremos o jardim, mundo de pequenas coisas... Aproveite os dias quentes e sinta a brisa literária.

Deixo algumas fotos e um poema de Eugénio de Andrade.
Olhos postos na terra, tu virás
no ritmo da própria primavera,
e como as flores e os animais
abrirás nas mãos de quem te espera.










segunda-feira, 9 de outubro de 2017

LITERATURA OU REALIDADE - Edição 2017/2018 da Comunidade de Leitores das BML

As obras literárias são muitas vezes um espelho da realidade ou realidades que vivemos. "A realidade do mundo apresenta-se aos nossos olhos múltipla, espinhosa, com camadas densamente sobrepostas. Como uma alcachofra" [Italo Calvino].
Os livros que lhe propomos para  esta edição têm múltiplas páginas repletas de vida na literatura.

Esteja atento(a) ao programa porque tem outras novidades. Vamos partilhar leituras, mas mais do que isso, vamos ao teatro. Inscreva-se!

segunda-feira, 10 de julho de 2017

FotoLeituras de Verão

Caro leitor(a)
Verão é tempo de férias, de descanso e claro de muitas leituras. Desafio-o a partilhar uma foto de férias. Única condição: o livro. Que livro andamos a ler. Depois das leituras feitas, podemos utilizar este espaço para partilharmos as nossas leituras. Que acham?  Eu começo já...


sexta-feira, 23 de junho de 2017

...Foi naquele ponto certo. Foi na Biblioteca Municipal Ary dos Santos, no dia 22 de junho.


Entre todos os lugares possíveis, foi naquele ponto certo. Assim se inicia o romance "Galveias" de José Luís Peixoto. O ponto certo, foi a Biblioteca Municipal Ary dos Santos onde passámos um serão dedicado à literatura e às pessoas. Uma noite única e irrepetível. Uma noite de emoções fortes e de surpresas, que vamos guardar para sempre nas nossas memórias e talvez no coração.

O Grupo Coral de Cante Alentejano da Liga dos Amigos da Mina de São Domingos, com sede em Sacavém deu o mote para que nos sentíssemos no Alentejo. Mas antes de cantarem as modas alentejanas, lembraram, com alguma emoção, o homem que deu nome à sala onde nos encontrávamos -  Herberto Goulart. O Hino dos Mineiros voltou a emocionar e cantámo-lo todos em uníssono em homenagem às vítimas da tragédia em Pedrogão Grande.

José Luis Peixoto havia sido convidado para esta sessão especial da Comunidade de Leitores, integrada na programação da comemoração do 1º aniversário da Biblioteca Municipal Ary dos Santos, mas por compromissos já assumidos não pôde aceitar o convite, mas, os leitores foram surpreendidos quando no grande écran surge o escritor a saudar a Comunidade de Leitores.



Galveias. Alguém pergunta onde fica essa terra alentejana e alguém responde que é uma freguesia do concelho de Ponte de Sor. Essa pessoa deu-se a conhecer e entre nós tínhamos uma das irmãs do escritor e a sua mãe Alzira Pulguinhas, senhora extraordinária e de grande riqueza, uma contadora de histórias, a quem certamente, José Luis Peixoto foi buscar o sabor das palavras e os afetos, que nos transmite através da sua obra literária.

Acercámo-nos da conversa  como os galveenses acercavam-se da cratera, avaliavam a forma da coisa sem nome, sentiam-lhe o calor e o cheiro, mas ignoravam-lhe o mistério. A coisa na Biblioteca tinha nome - comunidade de leitores, gentes que se encontram amiúde para falar de livros, para ouvir e contar histórias, para sentir o calor e os afetos. Hoje, a noite foi especial porque debatemos um romance autêntico, que fala da ruralidade portuguesa e como nos disse José Luís Peixoto Se forem a Galveias não se esqueçam de falar com as pessoas que são a maior riqueza. Tivémos connosco essa riqueza de Galveias - a Dona Alzira, mulher de idade sábia e  e uma das suas filhas que nos contaram muitas histórias dessa vila alentejana, das suas gentes e claro, de José Luís Peixoto.

A noite foi pouca para tantas  palavras e emoções,  mas ainda houve tempo para brindarmos com vinho alentejano aos bons momentos da vida e este foi um deles.
Maria Rijo


terça-feira, 20 de junho de 2017

Sessão extraordinária da comunidade de leitores dia 22 de Junho




 Galveias - José Luís Peixoto






Foto de José Luís Peixoto

Galveias





Por sugestão da tradutora grega de José Luís Peixoto, Athena Psillia, esta seria a banda sonora (grega) para Galveias 😊






Lindo, não acham?

quarta-feira, 31 de maio de 2017

1º Aniversário da Biblioteca Municipal Ary dos Santos, em Sacavém

Caros leitores,

Vamos ter mais uma sessão especial da Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures, a realizar no âmbito das comemorações do primeiro aniversário da Biblioteca Municipal Ary dos Santos. Desta vez, viajamos por Galveias, embalados pelo Cante Alentejano. "Galveias" de José Luís Peixoto fala-nos da ruralidade portuguesa e de muitas personagens que habitam esta pequena freguesia do concelho de Ponte de Sôr. Uma história com muitas histórias dentro e que com certeza, vai levar a outras histórias - às nossas, que temos sempre o  prazer de partilhar.

Vejam o programa e comemorem connosco estes dias de festa na Biblioteca Municipal Ary dos Santos. Temos todo o prazer em vos receber.

E, não se esqueça, a poesia e os poetas portugueses também  lá estarão. Aproveite e assista ao espetáculo de poesia "Entre nós e as palavras" com o ator Pedro Lamares.



quarta-feira, 3 de maio de 2017

Comunidade de Leitores integrada na comemorações do 25 de Abril no concelho de Loures

A noite estava escura. O autocarro  parado à porta da Biblioteca Municipal José Saramago, em Loures, aguardava a hora da partida. Primeiro chegou Ramos, apressado,  tinha de passar alguns avantes!  pelos camaradas e não ser visto. Conseguiu passar alguns. Depois apareceram Vaz e Rosa e logo de seguida chegou Paulo e Maria. Partimos em direção a Bucelas. Pela estrada fora conversámos sobre a nossa vida na clandestinidade. Uma vida difícil para tantos homens e mulheres que lutavam por uma vida mais justa. Estávamos nos anos 50, do século passado, num país que vivia oprimido por um regime opressor.

Chegámos a Bucelas, ao Museu do Vinho e da Vinha e aí, deu-se o encontro de pessoas que gostam de ler e de partilhar as suas leituras em liberdade, claro.

Falou-se do autor, Manuel Tiago/Álvaro Cunhal. Personalidade conhecida de todos, como militante e dirigente do Partido Comunista Português. Foi Secretário-Geral do PCP durante muitos anos, de 1961 a  1992.

Filiou-se no Partido aos 17 anos. É detido pela primeira vez aos 23 anos.  Esteve preso 11 anos e foi mantido incomunicável e em isolamento durante oito anos. Em janeiro de 1960 foge do Forte de Peniche, onde se encontrava preso. Após esta fuga, fica dois anos na clandestinidade e depois vai para o exílio onde permanecerá até 1974. Regressa a Portugal a 30 de abril desse ano.

Álvaro Cunhal foi também um artista raro, com imenso talento para as artes. Expressou-se na literatura e nas artes plásticas e ainda na reflexão teórica sobre a estética e a criação cultural. Foi também tradutor (traduziu Rei Lear de William Shakespeare, enquanto esteve preso).

Álvaro Cunhal terá usado muitos pseudónimos ou heterónimos (há diferentes opiniões).O autor terá dito em entrevista que "Tiago não é um pseudónimo, nem um heterónimo. É Cunhal, ele mesmo, usando máscaras, porque gostava de máscaras". Na literatura foi Manuel Tiago. Como tradutor usou o nome de Maria Manuela Serpa e na vida política foi um homem com muitos nomes: Daniel (jovem revolucionário), Duarte (Dirigente clandestino), António Vale, António Sousa, Alenquer, Gabriel, entre outros. Aliás, é por causa disso que o autor mereceu o título de "homem sem nome".
Morreu em 2005.

A vida de Álvaro Cunhal entrelaçada na sua ficção.

Álvaro Cunhal enquanto esteve preso, entre 1949 e 1960, escreveu o romance "Até Amanhã, Camaradas" e "Cinco Dias, Cinco Noites" e produz um número significativo dos seus desenhos e pinturas.

O autor escreveu 9 livros de ficção, sete dos quais publicados entre 1994 e 2003 - "A Estrela de Seis Pontas", "A Casa Eulália", "Fronteiras", "O Risco na Areia", "Sala 3 e outros contos", "Os Corrécios"e outros contos" e "Lutas e Vidas - um conto". A sua obra é constituída por ricas narrativas de ficção literária.

Pacheco Pereira, no primeiro volume de "Álvaro Cunhal: Uma Biografia Política" escreve que a verdadeira autobiografia de Álvaro Cunhal está nos romances, ficcionados pelo próprio, dando como exemplos, "Até Amanhã, Camaradas", com a construção do PCP na clandestinidade; "A Estrela de Seis Pontas", a experiência da prisão na Penitenciária de Lisboa; "A Casa Eulália", a experiência de Álvaro Cunhal em ESpanha, em 1936; "A Fronteira" que aborda as várias passagens das fronteiras em 1935, 1936 e 1948. No entanto, Álvaro Cunhal sempre recusou esta tese.

A história do romance "Até Amanhã, camaradas"

Supõe-se que começou a ser escrito quando Álvaro Cunhal estava preso na Penitenciária de Lisboa, no início da década de cinquenta do século XX.

Sabe-se que quando Álvaro Cunhal fugiu do Forte de Peniche, através de uma corda, pelas dezenas de metros de muralhas, Cunhal trazia consigo, escondidos num colete fabricado para o efeito, os manuscritos desta obra literária, que na altura se intitulava "A Mulher do Lenço Preto" e sabe-se também que na fuga acabou por se perder uma parte dos manuscritos que o autor mais tarde reconstituiu.

"Até Amanhã, Camaradas" só viria a ser publicado em 1975, com uma nota inicial em que dizia que o original tinha sido encontrado no meio de um arquivo com uma pequena folha apensa e agrafada, onde se lia num rabisco feito à pressa Manuel Tiago. Durante bastantes anos, não se soube que era Manuel Tiago. O que só viria a acontecer em 1994, quando Álvaro Cunhal assume a autoria das diversas obras assinadas com o pseudónimo de Menuel Tiago.

"Até Amanhã, Camaradas" testemunho de uma vida

Estamos perante um romance realista e único na literatuta portuguesa. É hoje, considerado um romance do neorrealismo, a par de outros romances de autores consagrados como Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes, José Gomes Ferreira, entre outros.
Este é um romance extraordinariamente importante na literatura portuguesa porque retrata um Portugal trabalhador e explorado pelo regime opressor de Salazar e mostra igualmente a dignidade e a coragem de homens e mulheres que participaram ativamente na construção de um partido, na sua organização e na luta, nos campos e nas fábricas em busca de uma vida melhor.

Como é afirmado por Domingos Lobo, "Manuel Tiago surge como uma voz descomplexada, com uma escrita clara e despojada, de cariz vincadamente anti burguês, politicamente e partidariamente comprometida. Álvaro Cunhal quis mostrar ao mundo aquilo que ele e outros companheiros viveram".

Os personagens e os lugares

Através desta narrativa conhecemos muitos homens e mulheres pela mão do autor, que os carateriza com rigor, nos pormenores físicos e psicológicos. Eles diferenciam-se pelo que fazem dizem, pensam ou sentem. Estamos, por isso, perante um romance polifónico. Aliás, o autor mostra-nos as pessoas com as suas fragilidades, feitios, teimosias, visões diferentes, as suas traições, etc. As pessoas são como são e Álvaro Cunhal mostra o ser humano tal qual ele é.

Podemos afirmar que o autor não quis destruir a individualização das personagens e vemos com certeza observar isso quando estivermos a falar nos personagens deste romance que são muitos (Vaz, Ramos, Marques, Maria, Rosa, Manuel Rato, Isabel, Joana, José Sagarra, Afonso, Paulo, entre tantos outros que viviam na clandestinidade.

Para além destes personagens, observamos o narrador, que é a voz que parece não ter nome. Ele é denominado de "Amigo" que é o personagem que visita a casa dos Pereira, como local  de refúgio ou ponto de apoio. Ele representa o grande coletivo partidário.

Pese embora o número significativo de homens e mulheres, personagens deste romance, Manuel Gusmão considera este romance como um dos poucos romances portugueses de herói coletivo e também um dos poucos que tem uma narrativa fundamental, a vida, a ação e a luta do indivíduo que a configuram. Urbano Tavares Rodrigues considera o Partido a personagem principal desta epopeia de pequenos heróis.

Temos também uma personagem simbólica - a bicicleta - personagem central, símbolo de um tempo de resistência e de luta, mas também símbolo de pobreza, dado que era o veículo utilizado pelos mais pobres e que passa despercebido, cumprindo assim as duas tarefas.

Outra importante caraterística deste romance é a descrição dos lugares que´é feita com grande clareza e é bastnte visual. O leitor consegue seguir todos os passos dos personagens, num crescendo de ação. Assiste a toda a preparação do movimento social com vista à materialização da greve, nas marchas da fome e reivindicações junto das autoridades locais. Em resposta a estes protestos, surge a repressão, a prisão,a tortura e a morte.

O romance termina com uma mensagem de esperança, digamos assim, porque no final assistimos ao reerguer da Organização, pela mão de Paulo, um dos personagens, um homem que não desistiu da luta perante as dificuldades.

Termino, referindo que a escrita de Álvaro Cunhal, foi uma forma de liberdade, como mais tarde terá afirmado no seu livro "A Arte, o Artista e a Sociedade": Arte é  Liberdade.

Maria Rijo






sábado, 8 de abril de 2017

Sessão especial da comunidade de leitores dedicada ao 25 de Abril - 27 de abril

Caros leitores
Estão convidados a  participar neste serão literário, fora de portas, no Museu do Vinho e da Vinha, em Bucelas. Vamos discutir em liberdade o que Manuel Tiago escreveu num tempo em que o fascismo não permitia reuniões.

Manuel Tiago conta-nos a sua vida e a de muitos homens e mulheres que lutaram na clandestinidade por uma vida melhor e essencialmente pela liberdade.

Aproveitemos a liberdade  para falar do livro "Até Amanhã Camaradas", para falar das nossas memórias, aprendermos uns com os outros a respeitar ideias e sermos todos mais tolerantes e  melhores cidadãos.

A companhia vai ser boa!!!!!


quarta-feira, 22 de março de 2017

domingo, 19 de março de 2017

Sessão especial - 27 de abril



Caros leitores,
Terminámos a edição dedicada à literatura policial. Bem sei que foram poucas sessões, o que não sabia é que havia leitores fãs deste género literário. Fomos detetives à noite e desvendámos crimes, alguns bastante complexos.Estivemos à conversa com o escritor Richard Zimler sobre o seu  livro "A Sentinela" e falámos um pouco de tudo. Passámos serões com boa conversa e boa disposição.
Uma conclusão tirámos - a literatura policial não é um género menor e, quem sabe, se um dia destes não voltamos aos policiais.



Mudamos de assunto, mas  não deixamos a literatura dura. "Até Amanhã Camaradas" de Manuel Tiago é a nossa proposta para estarmos à conversa no dia 27 de abril, no Museu do Vinho e da Vinha, em Bucelas.

Nas palavras de Urbano Tavares Rodrigues é um grande livro, inesperado e onde os sentimentos mais fortes e puros do homem encontram a simplicidade e o rigor transparente da expressão.

É uma história que se passa em 1944, num país oprimido pela ditadura de Salazar.Há quem resiste e se organize para mobilizar o povo para lutar pela liberdade, mesmo que isso lhes possa custar a prisão ou mesmo a morte.



Boas leituras!





sexta-feira, 10 de março de 2017

Policiais no feminino


 Disponibilizo o meu texto preparado para a apresentação da 4ª sessão desta comunidade de leitores que foi dedicada ao livro A Pena do Diabo de Minette Walters. Falou-se na literatura policial no feminino da autora e do livro que suscitou uma apaixonada discussão em torno desta obra literária.
Fomos muito British porque enquanto conversávamos, bebemos um chá inglês acompanhado com uns biscoitos.
Vale sempre a pena vir participar nesta nossa Comunidade de Leitores.

Ainda e sempre a lembrar o dia internacional da mulher que se assinalou ontem, vamos fazer uma breve introdução à literatura policial no feminino, comecemos então em 1794 com o primeiro romance gótico escrito por uma mulher, Mesmo não sendo um policial, Os Mistérios do Castelo de Udolfo, de Ann Radcliffe, já introduzia o sobrenatural e tinha uma componente de mistério, décadas antes de Edgar Allan Poe lançar “Os Assassinatos da Rua Morgue”, conto que inaugura o policial na literatura. 
Em 1878, surgiu O Caso Leavenworth, de Anna Katherine Green, considerado por muitos, o primeiro romance policial, de uma autora feminina. A história aborda o assassinato misterioso de um comerciante em N.Y., que fez um sucesso enorme entre os leitores antes mesmo de Sherlock Holmes. Criou ainda a senhora Amelia Butterworth, um protótipo do que viria a ser Miss Marple. Lembrar ainda Mary Roberts Rinehart, americana que popularizou a “culpa é do mordomo” em A Porta Secreta (embora a frase, ironicamente, nunca tenha sido dita no livro). E curiosamente é ela que inspira Bob Kane na criação do Batman com seu personagem chamado “The Bat”. 
Entre 1920 e 1930, surge a Era de Ouro do romance policial. O leitor era agora desafiado a descobrir o criminoso através da investigação de um detetive. Muitas mulheres adotaram deste género literário, mas Agatha Christie foi a mais notável de todas. Com os detetives Hercule Poirot e Miss Marple, ela é a romancista mais bem-sucedida da história da literatura policial, com quatro mil milhões de livros vendidos. Outras autoras também fizeram grande sucesso como Dorothy Sayers, dramaturga e tradutora de A Divina Comédia para o inglês, Margery Allingham, Josephine Tey (pseudônimo da escocesa Elizabeth Mackintosh) e a neozelandesa Ngaio Marsh.
Na atualidade, os temas abordados no romance policial variam muito, ampliando as possibilidades da narrativa. Surgiram outras formas de se relacionar com o crime e também outras formas de cometê-lo. Autoras como Patricia Highsmith exploraram como ninguém os dramas psicológicos, principalmente com o carismático serial killer Tom Ripley. Mildred Benson escreveu muitas aventuras de mistério para a série Nancy Drew, e a “baronesa do crime” PD James apoiou-se na velha escola para criar o detetive Adam Dalgliesh. Ruth Rendell, por sua vez, escolheu o inspetor Reginald Wexford para a sua série de policial, Anne Perry, pseudónimo de Juliet Hulme, com as suas histórias a retrarem uma Inglaterra vitoriana.
Anna Maria Vilallonga, professora Universidade de Barcelona, especializada em literatura policial, acredita que as mulheres, em geral, criam personagens mais observadores e que elas “estão mais interessadas no mecanismo que leva alguém a matar do que na violência propriamente dita”. Verdade ou não, nas últimas décadas, a ciência, a medicina e tecnologia têm influenciado cada vez mais os policiais. Patricia Cornwell e Tess Gerritsen cativaram milhões de seguidores com suas personagens modernas e independentes, a primeira com a médica legista Kay Scarpetta e a segunda com Jane Rizzoli e a legista Maura Isles. 
Na Escandinávia, nomes como Åsa Larsson, Camilla Läckberg, a “rainha do crime noruguês” Karin Fossum, Anne Holt (ex-ministra da Justiça da Noruega), a finlandesa Leena Lehtolainen e ainda as suecas Liza Marklund e Alexandra Coelho Ahndoril (a segunda metade do pseudônimo Lars Kepler) e ainda Yrsa Sigurdardóttir Islândesa (engenheira civil em Reiquiavique).
Na Europa, JK Rowling, sob o pseudonimo Robert Galbraith dedicou-se às histórias do detetive Cormoran Strike; Donna Leon; Fred Vargas; Sophie Hannah “ressuscitou” o ultra popular Hercule Poirot.
 E ainda Minette Walters a nossa escritora de hoje, considerada uma verdadeira revelação com os seus violentos dramas familiares passados em cenários idílicos.
Falando um pouco da sua vida ela nasce em Inglaterra em 1949, filha de um bispo capitão do exército e de uma artista plástica. Devido à vida profissional do pai, os seus primeiros 10 anos de vida são passados entre bases do exército de norte a sul de Inglaterra. O seu pai morre em 1960 e como a própria afirma “ Fui enviada para o internato da Abadia de Godolphin, em Salisbury, aos 12 anos, o que teve uma influência determinante para o resto da minha vida. Foi um ano após a morte meu pai e isso obrigou-me a tornar-me muito independente emocional e socialmente. (…)
No ano antes de entrar na Universidade de Durham, foi para Israel como voluntária do grupo The Bridge. Ficou por lá quase sete meses a trabalhar num Kibbutz, em hospitais e outras instituições em Jerusalém e como a própria o dirá   “imaginarão a tudo a que assisti…”
O seu percurso universitário não foi de todo o mais tradicional como a própria afirma “devo dizer que nos meus três anos em Durham, trabalhei o mínimo possível, raramente assisti a palestras, e foi-me permitido completar o curso em 3 anos, porque me recusei a passar um ano em França.” Mas foi um tempo muito útil este porque consegui um diploma e um marido.
Na universidade o sistema era muito restritivo, então resolveu no último ano mudar-se para um apartamento acima de uma casa propriedade de um ex-ministro e da sua mulher. Ensinaram-na mais sobre a vida do que em todo o tempo de Universidade.
Trabalhou em revistas, foi diretora de uma delas,  publicou contos e novelas românticas que lhe permitiam pagar as contas.
Em 1979 e em 1982 é mãe e rapidamente descobre que era impossível trabalhar com duas crianças em casa. Em 1987 com 37 anos de idade decide voltar a escrever mas só em 1992 edita a Casa do Gelo depois de ser rejeitada por várias editoras. Mas nada será como antes, em apena 4 meses torna-se uma escritora revelação ganhou o prémio da Associação dos escritores do crime John Creasey Award no reino unido para melhor primeiro romance e foi traduzido em vários países. Tem publicado em mais de 35 países e já foi galardoada com várias distinções de entre as mais importantes destacam-se o Edgar Allan Poe Award para o melhor romance policial nos Estados Unidos foi premiada também CWA Golden Daggers na categoria de ficção, assim como o Grand Prix des Lectrices d’Elle em França. Os seus cinco livros iniciais foram adaptados para televisão pela BBC e transmitidos não só no Reino Unido como no resto do mundo. 

O romance que vamos hoje analisar é o seu 10º Romance.
Será um policial, um thriller psicológico, Suspense…
Certo é que a imaginação é também ela uma personagem principal…
Protagonistas enérgicas, e personagens femininas cuja ambiguidade faz com que sejam incluídas entre os suspeitos, algo que é característico desta autora.
E o que dizer do final…      a dúvida, essa,     fica mesmo para além do ponto final.

Rita Pitada




 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

4ª Sessão "DETETIVES À NOITE" - Um policial no feminino.

A Pena do Diabo



A última sessão de "Detetives à Noite" a realizar na Biblioteca Municipal José Saramago, em Loures, é já no dia 9 de Março às 21h00.
 
Este é um policial no feminino onde iremos desvendar o mistério que se esconde por detrás da morte de cinco mulheres, brutalmente assassinadas, na Serra Leoa.
 
Até já e boas leituras.
 
 
 
 
 
 






 
Uma triste realidade...

Ler na escola

 
A criação de um Plano Nacional de Leitura – o nosso PNL, mas também muitos outros espalhados pelo mundo (lembro-me, por exemplo, de un Plan de Lectura na Argentina) – é fundamental, antes de mais, para que todos os alunos, venham de onde vierem, possam aceder ao livro em igualdade de oportunidades. Isso, para mim, é o mais importante, pois todos sabemos que há famílias que não têm um único livro em casa e que, se não for a escola a disponibilizá-los, muitas crianças não poderão ler livros e experimentar o prazer da leitura. Claro que o aconselhamento de certas obras para determinado grau de ensino ou idade é interessante, mas não deve ser tomado como um espartilho:  não há ninguém que conheça melhor o nível intelectual ou os hábitos de leitura de uma turma como o seu próprio professor e, assim sendo, a lista de recomendações de um Plano de Leitura (cá, lá e em toda a parte) deveria ser apenas um guia de sugestões. Muitas vezes, porém, não é. E porquê? Pois, agora vou chegar à parte difícil. É que há mesmo muitos professores que não lêem absolutamente nada e, quando têm de propor a leitura de uma obra aos seus alunos, imediatamente consultam a lista pois não saberiam de outro modo o que aconselhar. Li um artigo sobre o assunto, em que uma coordenadora de leitura, no Brasil, foi a uma escola em que os professores não tinham a mínima ideia de como motivar os alunos para a leitura; e, quando ela lhes pediu que trouxessem um livro de que tivessem gostado e falassem dele, bem… percebeu que não tinham lido nenhum livro nos últimos dois anos. Será que os Planos de Leitura de todo o mundo não deveriam também sugerir obras a professores?
 
Maria do Rosário Pedreira do Blog Horas Extraordinárias 20/01/2017

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Um fim de tarde com Richard Zimler

A terceira sessão da Comunidade de Leitores contou com a presença do escritor Richard Zimler que gostou da “surpresa” contada uns minutinhos antes, durante a viagem até à Biblioteca Municipal Ary dos Santos, da leitura encenada de um excerto da sua obra, protagonizada por dois dos leitores desta comunidade – Carlos Santos e Alfredo Santos. Depois de ficarmos a conhecer dois dos personagens da obra em discussão “A Sentinela”, Henrique Monroe e o seu irmão Ernie, quisemos saber afinal quem era A Sentinela que habitava no corpo de Henrique Monroe, Inspetor Chefe da Polícia Judiciária, com a árdua tarefa de desvendar o crime de Pedro Coutinho. Zimler contou-nos tudo. Contou-nos como surgiu o nome para o título, “Night  Watchman”.Mas como escreve em inglês, traduzido ficava qualquer coisa como “ O guarda-noturno”, o que não podia ser. Então, o Alexandre foi quem sugeriu o título, tal qual o conhecemos “A Sentinela”. Contou-nos também como surgiu a ideia para escrever o romance. Estava em Nova Iorque, numa livraria, e deparou-se com um livro de psicologia, porque gosta de ler temas diversificados, e, a partir do assunto desse livro que falava da perturbação dissociativa de identidade, surgiu a ideia chave para o seu romance.
Já todos sabemos que a literatura tem um poder enorme, e, por isso mesmo, a conversa fluiu por muitos assuntos, a partir da história do livro. Falámos de assuntos muito sérios e que fazem crescer, dentro de nós, uma certa raiva, assuntos que nos incomodam, como o são os abusos a menores e a violência doméstica. O escritor falou do seu caso pessoal e muitos de nós pensámos que também já sofremos ou assistimos a situações dessas e, provavelmente fomos aos nossos baús da memória, onde guardamos os nossos silêncios, incapazes de se tornarem públicos, embora seja preciso falarmos das coisas que nos revoltam, como o fez Zimler com grande coragem.
Falámos de política, de políticos e de corrupção, nomeámos alguns nomes portugueses que passaram pela governação do país, há poucos anos, falámos de Bush, de Trump e de outros políticos que chegam ao poder, sem filtragem a funcionar, na opinião do escritor. Sugeriu que alguns desses políticos (não dizemos quais) deveriam ter sido rececionistas de hotel, vendedores de perfumes ou mulheres da limpeza da biblioteca, sem desprestígio para as pessoas que têm essas profissões. Explicou-nos ainda que usou os nomes de alguns políticos de então (2012) para tornar o romance realista, o que é natural na cultura anglo-saxónica, acrescentando ainda que não teve qualquer problema ou medo de represálias porque tinha a certeza que aqueles políticos não leem literatura.
Outras conversas surgiram à volta da obra já extensa de Richard Zimler, como a história judaica, numa sessão muito participada e calorosa. No final, Richard Zimler deu autógrafos e conversou com os seus leitores.

A Biblioteca é um mundo cheio de palavras e afetos. Venha fazer parte dele!