A terceira sessão da Comunidade
de Leitores contou com a presença do escritor Richard Zimler que gostou da
“surpresa” contada uns minutinhos antes, durante a viagem até à Biblioteca
Municipal Ary dos Santos, da leitura encenada de um excerto da sua obra,
protagonizada por dois dos leitores desta comunidade – Carlos Santos e Alfredo
Santos. Depois de ficarmos a conhecer dois dos personagens da obra em discussão
“A Sentinela”, Henrique Monroe e o seu irmão Ernie, quisemos saber afinal quem
era A Sentinela que habitava no corpo de Henrique Monroe, Inspetor Chefe da
Polícia Judiciária, com a árdua tarefa de desvendar o crime de Pedro Coutinho.
Zimler contou-nos tudo. Contou-nos como surgiu o nome para o título, “Night Watchman”.Mas como escreve em inglês, traduzido
ficava qualquer coisa como “ O guarda-noturno”, o que não podia ser. Então, o
Alexandre foi quem sugeriu o título, tal qual o conhecemos “A Sentinela”.
Contou-nos também como surgiu a ideia para escrever o romance. Estava em Nova
Iorque, numa livraria, e deparou-se com um livro de psicologia, porque gosta de
ler temas diversificados, e, a partir do assunto desse livro que falava da
perturbação dissociativa de identidade, surgiu a ideia chave para o seu romance.
Já todos sabemos que a literatura
tem um poder enorme, e, por isso mesmo, a conversa fluiu por muitos assuntos, a
partir da história do livro. Falámos de assuntos muito sérios e que fazem crescer,
dentro de nós, uma certa raiva, assuntos que nos incomodam, como o são os
abusos a menores e a violência doméstica. O escritor falou do seu caso pessoal
e muitos de nós pensámos que também já sofremos ou assistimos a situações
dessas e, provavelmente fomos aos nossos baús da memória, onde guardamos os
nossos silêncios, incapazes de se tornarem públicos, embora seja preciso
falarmos das coisas que nos revoltam, como o fez Zimler com grande coragem.
Falámos de política, de políticos
e de corrupção, nomeámos alguns nomes portugueses que passaram pela governação
do país, há poucos anos, falámos de Bush, de Trump e de outros políticos que
chegam ao poder, sem filtragem a funcionar, na opinião do escritor. Sugeriu que
alguns desses políticos (não dizemos quais) deveriam ter sido rececionistas de
hotel, vendedores de perfumes ou mulheres da limpeza da biblioteca, sem
desprestígio para as pessoas que têm essas profissões. Explicou-nos ainda que
usou os nomes de alguns políticos de então (2012) para tornar o romance
realista, o que é natural na cultura anglo-saxónica, acrescentando ainda que
não teve qualquer problema ou medo de represálias porque tinha a certeza que
aqueles políticos não leem literatura.
Outras conversas surgiram à volta
da obra já extensa de Richard Zimler, como a história judaica, numa sessão
muito participada e calorosa. No final, Richard Zimler deu autógrafos e
conversou com os seus leitores.
A Biblioteca é um mundo cheio de
palavras e afetos. Venha fazer parte dele!